Ao fim da tarde
é que o mar é meu.
Nas horas mais quentes do dia,
O mar desafia...
É confronto do corpo
com o branco espumoso,
e o da areia pelo Sol dado.

Ao fim da tarde
a água não parece tão vitoriosa
quando reclama as suas transparências ao Sol...

Diria que é uma água sonolenta porém lúcida...

Nas horas mais quentes
a água é um convite declarado...
Ao entardecer
seduz os seus amantes para a dança
e até parece não lhes apagar o rasto na areia,
para os devolver já saciados
em pouca luz,
quando ainda sussura
frescuras baixas ou profundas,
conforme o amante seja a gaivota,
ou um diletante sensacional.

Ao fim da tarde
é que o mar é meu!,
e o azul mais negro e violeta
conjectura as preces
que eu faço
de me diluir nessa perpétua massa
em movimento...
(um desejo de esquecimento)

Ao fim da tarde
é que eu sou mar:
estranho ser físico,
em estado cardinal;
reflexos de estrelas,
ou de astros brancos,
devaneios de poetas vencidos,
angústias por revelar,
e azul, azul, azul, azul.

Seria loucura
pensar que não te lembro
nessas ondas
e que em todas as marés
estás em madre-pérolas espalhadas à beira d'água,
em suavidades coloridas de rosa, e lilás, e amarelo de Nápoles!!
(esqueletos que nunca piso...)

Quando sou esse mar,
Em Junho, Novembro, ou Março,
Só o tempo que dançamos muda...
ou a violência da paixão
com que te chamo
desse perfil estático
tentando ser indiferente à imensidão aquosa.

É difícil saber que ondas te mostrar,
ou mesmo se preferes águas domadas em piscinas artificiais...
filtradas, tratadas, desinfectadas,
um produto civilizacional
desprovido de comoção
ou história dos tempos.

No fim dos dias
em que sinto o mar como meu,
e nas suas espirais ondulantes
me abandono sem resistência,
trágico, já grito o teu nome às imperturbáveis falésias...
e no eco que volta, oiço,
não só as aves assustadas,
mas o acre da minha voz...
A derrota
da luta com o tempo
em que os profusos sonhos
sem mágoas, ou reservas,
tal como vapor
(estado mais livre),
de mim se irão
dissipar...

Comentários

Anónimo disse…
Algo falhou ontem....porque já tinha feito o meu comentário! Talvez pela hora pouco usual?!
Adorei o teu apontamento,para mim foi o melhor que publicas-te(dos registos que conheço da tua pessoa como escritor).
Se pensas em alguém para além de ti quanto o escreves-te, esse alguém deve ser muito especial...
porque tu eu sei que és!


Sempre,



Luna

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